A importância da automonitorização

Você costuma monitorar a sua glicemia diariamente? Esta é a ferramenta mais importante no seu papel para o tratamento do Diabetes.

A  AUTOMONITORIZAÇÃO NO DIA A DIA DO DIABÉTICO

 Há  trinta e três anos atrás, quando eu tinha apenas três anos e Diabetes Tipo 1 recém -diagnosticada, imagino o desafio dos meus pais ao ter que  aprender a criar uma criança pequena, hiperativa e diabética.

Naquela época, em 1979, não existiam diets, o tratamento de um diabético era extramente radical e proibitivo, e manter o controle como mantemos hoje era muito mais difícil.

Me lembro que usava tiras reagentes que dosavam a glicose na urina, o Keto Diastix ( me impressionei quando fui pesquisar na internet e vi que ele ainda existe). Era um exame bem simples, que em uma escala de cor mostrava a quantidade de açúcar que estava sendo eliminado pela urina. Verde água zero glicose, marrom, hiperglicemia ( veja a foto).

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Keto Diastix

O exame era bem simples, mas a precisão não,o que deixava o tratamento a desejar, e a glicemia duvidosa.

Foram muitos anos assim até que meu pai trouxe de um Congresso  de Endocrinologia ( ele era VP de Marketing de um laboratório farmacêutico) um aparelho que mais parecia vindo do espaço ( veja a foto dele abaixo ) para medir o nível de glicose no sangue. Mas existia um porém: eu deveria picar meus dedinhos várias vezes ao dia, e isso doía demais. Além do tamanho, do aspecto alienígena, do sangue, e da dor forte, cada tentativa de dextro era uma cena de terror. Com isso, o tal equipamento caiu em desuso. Que erro.

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Glicosimetro usado nos anos 80

Só fui iniciar – ainda com ressalvas – os testes de automonitorização quando ganhei do meu endocrinologista , em 1997, um glicosimetro super simples, com lancetador, e comecei a me acostumar com a ideia. Usei o quanto pude, mas ainda bem menos do que deveria! Me lembro bem do nome….Precision. Muitos anos depois, tive o prazer de doá-lo a uma garota da academia onde eu treinava, pois a mãe descobriu o diabetes e já apresentava algumas complicações.  Nessa época, os glicosímetros ainda eram muito caros aqui no Brasil.

Há cerca de onze anos minha rotina de pontas de dedo passou a ser mais rigorosa. Desde então, não consigo entender como pude passar a maior parte de minha vida evitando este exame. Ao participar de um protocolo da Escola Paulista de Medicina, hoje UNIFESP, recebi todos os equipamentos, insumos, e diários onde eu deveria anotar religiosamente as glicemias, sintomas e dieta. E tudo mudou para mim. Ali pude perceber que só registrando diariamente tudo o que fazia conseguiria visualizar de verdade o sucesso – ou não – do meu tratamento.

Atualmente, as novas tecnologias que surgiram para o tratamento da doença permitem que o diabético tenha uma vida considerada “normal”. Na área tecnológica foram muitas as mudanças. Atualmente, os glicosímetros são menores, mais confiáveis e quase todos os aparelhos disponíveis no mercado exigem uma quantidade bem menor de sangue que os antigos.

Aceitar a doença e aderir ao controle, aprender mais a respeito do seu diabetes a cada dia, como se comporta sua glicemia quando come, quando faz exercícios, quando dorme, quando viaja, tudo isto é muito importante. Seguir a rotina da prevenção de complicações fazendo exames de fundo de olho anualmente, sempre cuidar dos pés para que não haja lesão, realizar exames de sangue e urina conforme as determinações do médico são  essenciais

E é preciso sempre insistir que o sucesso do tratamento, que representa uma vida longa, saudável e feliz para o diabético depende de hábitos que são imprescindíveis  como alimentação correta, atividade dísica diária, controle do peso,  acompanhamento médico e automonitorização caseira pelo paciente.

 A IMPORTANCIA DA AUTO MONITORIZAÇÃO

Pessoas com diabetes desempenham um papel central no seu próprio tratamento, através de cuidados como: a dieta, o exercício, o uso correto das medicações e a automonitorização glicêmica.

A automonitorização glicêmica é a prática do paciente diabético medir regularmente a sua própria glicemia através de fitas e/ou aparelhos de uso doméstico.

Medir freqüentemente os níveis de glicose no sangue, através do uso de aparelhos portáteis no sangue da ponta dos dedos, é uma oportunidade para o diabético assumir o controle da sua própria saúde. Essa é uma das melhores maneiras de determinar se o tratamento para o diabetes está sendo efetivo, isto é, se a glicemia está sendo mantida o mais próximo do normal possível.

Posso afirmar, por experiência própria, que depois que passei a usar o glicosímetro diariamente, de uma forma séria e responsável, meu controle ao longo dos anos melhorou e muito. COM CERTEZA, SE EU NÃO TIVESSE SIDO TÃO RESISTENTE AO TRATAMENTO, PODERIA TER EVITADO AS COMPLICAÇÕES COM AS QUAIS TENHO QUE CONVIVER HOJE – A RETINOPATIA E A NEFROPATIA.

Os exames de laboratório solicitados regularmente pelo médico (glicemia venosa, hemoglobina glicada etc.) fornecem uma estimativa da qualidade do controle glicêmico, mas apenas a monitorização domiciliar da glicemia pode permitir ao paciente o ajuste fino do plano de tratamento, conforme a variação do diabetes de um dia para o outro e com as diferentes situações do cotidiano. Com isso, é possível um controle glicêmico mais rigoroso, que diminui a chance de complicações diabéticas a longo prazo e também retarda a progressão das complicações porventura existentes.

E é exatamente essa a minha vida hoje.

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Resultado do meu teste após o almoço

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Fazendo a automonitoração durante meu dia de pesquisas

Além disso, a automonitorização ajuda a prevenir as conseqüências potencialmente sérias de flutuações excessivas nos níveis de glicose (hiperglicemia e hipoglicemia).

Para citar um exemplo de  algo assustador que já conteceu comigo, uma certa vez estava com minha mãe fazendo compras em um supermercado e, já no caixa, comecei a me sentir estranha. Os sintomas eram: fadiga, dor no corpo, um sono inexplicavel. Eu tinha certeza que estava com a glicemia nas alturas, e quando fiz o dextro: 29 mg/dl. Ninguém acreditou, mas eu estava com hipoglicemia….com sintomas iguais ao de uma hiperglicemia!

Se eu não fizesse o teste,  naquele momento, teria aplicado insulina e provavelmente baixado hospital. É preciso muito cuidado com os sintomas, que as vezes são imperceptíveis, e sim, fazer o uso constante, diário, religioso de seu glicosímetro.

COMO FAZER?

Qualquer pessoa com diabetes (exceto crianças muito pequenas) pode medir sua própria glicemia. Existem diversos tipos de aparelhos (glicosímetros) que fazem a medida da glicemia, geralmente em amostras de sangue retiradas da ponta dos dedos. Existem também fitas que mudam de cor, que dispensam o uso de aparelho, mas não são tão precisas. NÃO ACONSELHO O USO DESTES.

Para fazer corretamente a medida da glicemia, usa-se uma agulha ou lanceta para produzir uma pequena perfuração na ponta do dedo (Figura 1 ). Se houver dificuldade em retirar sangue do dedo, pode-se tentar as seguintes medidas:

1) lavar as mãos com água morna;
2) sacudir as mãos abaixo da cintura;
3) apertar ou “ordenhar” o dedo.

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Figura 1

A gota de sangue obtida é depositada na fita, no local próprio. Se estiver sendo usado um glicosímetro, este vai fornecer uma medida digital no visor, após alguns segundos (Figura 2). Se for utilizada a fita de cor (Haemoglukotest ®), deve-se seguir as instruções do fabricante e comparar a coloração da fita com uma escala que consta na embalagem.

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Figura 2

FREQUÊNCIA DAS MEDIÇÕES

A freqüência da automonitorização vai depender, em primeiro lugar, do tipo de diabetes. Além disso, varia com outros fatores, que podem alterar os níveis de glicemia, e com as metas do tratamento.

Pacientes com diabetes tipo 1( MEU CASO)  – Estes pacientes precisam manter a glicemia tão próxima do normal quanto possível. Para isso, a monitorização diária da glicose sangüìnea é indispensável. O número de medidas por dia varia de paciente para paciente. Idealmente, a maior parte dos pacientes com diabetes tipo 1 precisa fazer medidas de glicemia de 3 a 4 vezes por dia. Pacientes em tratamento mais intensivo (contagem de carboidratos, bomba de infusão de insulina etc) precisam fazer até 7 medidas por dia.

Costumo realizar os testes com esta frequencia:

  1. Jejum
  2. Após cafe da manha ( normalmente horario em que faço ginástica)
  3. Antes do almoço
  4. Pos prandial I
  5. Final da tarde ( por volta de 17 hs, quando faço um lanchinho)
  6. Antes do jantar
  7. Antes de dormir ( aí verifico a necessidade de fazer um lanchinho antes de dormir também)

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Monitorização feita antes do Cafe da Manhã

IMPORTANTE: A AUTOMONITORIZAÇÃO,  EXERCICIOS  E DIABETES TIPO 1 ( ou 2 que faz uso de insulina)

Este hábito adquiri desde que comecei a passar mais tempo na academia. Como normalmente faço uma hora de atividade aeróbica e uma de musculação ( isso quando não resolvo fazer mais), é necessário realizar um teste durante os exercícios, caso você fique em atividade por mais de uma hora. Isso porque além da insulina que está no organismo trabalhando constantemente, ainda estamos “queimando”glicogenio, ou seja, pode-se fazer hipoglicemia durante o exercício. Como evitar? Alimentando-se antes e monitorando sua glicemia.

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Durante o exercício às vezes faz-se necessária a checagem da glicemia

 Pacientes com diabetes tipo 2 – A monitorização da glicemia também é importante nestes pacientes, mas geralmente a freqüência não precisa ser tão grande quanto nos pacientes com diabetes tipo 1. O médico endocrinologista é quem vai determinar o plano de monitorização mais adequado para cada paciente, levando em conta fatores como: o tipo de medicação utilizada, a presença de complicações do diabetes, a qualidade do controle glicêmico etc.

 COMO USAR OS RESULTADOS DA AUTOMONITORIZAÇÃO

 A automonitorização glicêmica produz muitos números. O paciente deve discutir com o seu médico o que significam esses números, como registrá-los e como usá-los para melhorar o controle dos níveis de glicose.

Em geral, toda medida de glicemia deve ser registrada. O paciente deve anotar: o valor da glicemia, a hora do dia em que foi medida, a dose da medicação usada, o tempo decorrido desde a última refeição, se foi feito exercício recentemente e a presença de qualquer doença ou stress.

Vários dias de monitorização são necessários para definir um padrão da glicemia durante o dia e para permitir ajustes na medicação ou nos hábitos de vida do paciente.

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A automonitorização deve ser um hábito na vida de nós diabéticos!

Diabéticos tipo 1 em tratamento intensivo podem ajustar sua própria dose de insulina antes das refeições, de acordo com a medida da glicemia nesses momentos.

Diabéticos do tipo 2 podem usar os seus registros de glicemia para avaliar a efetividade do seu tratamento e para fazer pequenos ajustes.

Se você tem Diabetes e ainda não criou o hábito  de monitorar sua glicemia em casa diariamente, converse com seu médico para iniciar este tratamento. Pode até parecer complicado, chato, doloroso…mas tenha certeza que essas gotinhas diárias de sangue farão com que a doença não atrapalhe em nada sua rotina e, ao contrário do que muitos pacientes pensam no início ( e eu já fui assim) , vai só melhorar sua disposição, seu trabalho e seu convívio social. Experimente!

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